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Vinhos de Guarda

Quem já ouviu falar que vinho quanto mais velho melhor?

Essa é uma frase muito comum e já virou até expressão popular. Mas será que é isso mesmo? 

Se pegarmos dois vinhos da Borgonha, um Bourgogne Pinot Noir (regional) de 1915 ele será melhor do que um vinho Chambertin Grand Cru 2015? Será que esses 100 anos de diferença vão fazer com que um vinho da apelação Borgonha regional seja qualitativamente superior a um Chambertin Grand Cru 2015? E com a mesma apelação: Chambertin Grand Cru 1915 será superior qualitativamente a um Chambertin Grand Cru 2015? Vamos entender melhor essa história.

Pensando de uma forma direta: o que faz um vinho da Borgonha ser de boa qualidade?

  • Ser feito de uma única uva – monocépage: Pinot Noir ou Chardonnay;
  • A qualidade de seu terroir e do seu climat;
  • Maturidade e concentração das suas uvas;
  • Como o vigneron cuida da viticultura de suas vinhas;
  • Como é feita a vinificação, envelhecimento, engarrafamento e armazenamento dos vinhos no Domaine;

Tendo esses conceitos bem definidos e aplicados no cotidiano, o vigneron precisa ainda lidar com as oscilações climáticas que ocorrem durante o ano. E esse é o ponto crucial que faz com que um mesmo vinho, da mesma apelação, do mesmo produtor seja diferente a cada safra. Uma vez que na Borgonha é proibido fazer intervenções de ordem climática, como por exemplo irrigar o solo em caso de seca e outras pequenas astúcias. Afinal, o vinho da Borgonha é o resultado de um ano de trabalho e ele reflete o terroir, o climat, o trabalho do vigneron e as condições climáticas daquele ano.

E o que é um vinho de guarda? 

É aquele vinho de um grande terroir, seja ele Grand Cru, Premier Cru ou os melhores climats classificados em Villages, que quando BEM armazenado (sem oscilações de temperatura, trepidações, umidade e luz), consegue durante os anos evoluir lentamente os seus aromas, sabores e cor, levando ao seu apogeu. É importante lembrar que logo depois do apogeu vem uma queda e o vinho perde seu equilíbrio. Por essa razão um vinho não deve ser guardado por muito tempo ou você corre o risco de prová-lo no momento que ele já passou pelo seu melhor. 

Então respondendo às nossas perguntas do começo do texto:

  • Um vinho Bourgogne Pinot Noir (regional) de 1915 será superior qualitativamente a um Chambertin Grand Cru 2015? 

Provavelmente não. Para um vinho de guarda envelhecer bem ele precisa ser de um grande terroir e nesse caso estamos falando de um Bourgogne Regional com um Grand Cru. Precisa ter uma bela concentração em suas uvas e boa maturidade e esses conceitos em 1915 não eram tão normais e aplicados, principalmente a parte da concentração das uvas. A viticultura e a vinificação até o fim do século XX eram bem diferentes. A questão da qualidade da viticultura começou a mudar com o célebre vigneron Henri Jayer (1922-2006) e as melhorias das técnicas de vinificação, envelhecimento, engarrafamento e armazenamento tomaram um salto depois da década de 90. Mas, se você encontrar um vinho Bourgogne Pinot Noir bem antigo à um preço acessível é interessante prová-lo justamente para poder identificar os aromas terciários – veja o texto escrito pela nossa sommelier Ana Rita clicando aqui – ou para entender quando um vinho já passou do seu apogeu. Geralmente um Bourgogne regional não é um vinho de guarda, mas sempre é interessante provar para aprender.

  • A nossa segunda questão era: Chambertin Grand Cru 1915 x Chambertin Grand Cru 2015.

Se tratando de um Grand Cru é sempre interessante provar. E levando em consideração o armazenamento sem oscilação de temperatura, luz, umidade e vibração em 100 anos é um pouco complicado.  Contudo, se o vinho pertence a um único dono todo esse tempo, por exemplo está na mesma adega da mesma família sem se mexer, e se as uvas quando colhidas tinham boa qualidade, será super interessante de prová-lo e compará-lo com um 2015 da mesma apelação. 2015 foi um excelente ano, com condições de luminosidade e água perfeitas para as uvas, um ano excelente que já pode ser provado agora, para menores apelações e que pode ser facilmente guardado por mais 20 anos nas grandes apelações. Logicamente ao comparar vinhos dessa forma irão aparecer diferenças, afinal já sabemos que as técnicas de viticultura e vinificação eram diferentes antigamente e por isso que é difícil nesse exemplo afirmar que um vinho de 1915 Grand Cru é superior em qualidade a um 2015, levando em consideração a quantidade de anos de envelhecimento.

Em ambos os casos demos exemplos extremos: vinhos de 100 anos de diferença. Agora vamos trazer para a nossa realidade com vinhos depois da década de 50.

Já constatamos que o clima tem influência na qualidade de um vinho. E também é fato que um vinho bem feito e em equilíbrio desde o princípio, mesmo com condições não ideais climáticas ao longo do ano, pode com o lento envelhecimento ao longo dos anos minimizar seus pontos fracos e atingir um belo apogeu, que não era esperado em seus primeiros anos. Por isso que independente da condição climática daquele ano, o vigneron deve sempre trabalhar o melhor possível da sua vinha até o armazenamento das garrafas.  Um bom exemplo são as safras de 2004, 2008, 2011 e 2013. Desde o ano passado em 2020 quando começamos abrir algumas garrafas dessas safras, notamos radicalmente uma boa melhora. Os vinhos provados estavam em equilíbrio desde o começo e seus pontos fracos impediam com que eles fossem bem apreciados quando jovens. Contudo hoje, eles evoluíram bem, seus pontos desfavoráveis foram minimizados e temos um grande prazer e surpresa ao prová-los em torno de uma bela mesa.

Para a nossa alegria, não precisamos caçar vinhos antigos sem saber se eles foram bem armazenados. Há alguns Domaines na Borgonha que são especialistas em vinhos de guarda, ou seja, durante e após a vinificação eles trabalham para que os vinhos de grandes terroirs sejam somente vendidos e transportados após anos de envelhecimento no próprio Domaine, sob as melhores condições de temperatura, umidade, luz e livre de vibração. É o caso do Domaine Potinet Ampeau, um pequeno produtor localizado em Monthélie na Côte de Beaune na Borgonha, cuja família produz vinhos de alta qualidade há 5 gerações. Hoje o Domaine é gerenciado pelo Vincent Durrieu e ele continua os passos dos seus avós que na década de 50 decidiram produzir vinhos de guarda. Com uma cultura tradicional nos seus aproximadamente 10 hectares de vinhas entre as vilas de Monthélie, Volnay, Meursault, Puligny-Montrachet, Auxey-Duresses e Pommard ele apresenta uma seleção incrível de vinhos antigos envelhecidos no local. Na nossa última degustação no Domaine ele nos apresentou a safra de 2019 envelhecendo nos barris e depois seguimos para as suas garrafas especiais muito bem guardadas. Foram duas horas de boa conversa, troca de conhecimentos e acima de tudo ótimos vinhos, onde o momento auge foram os vinhos Meursault de 1997 e 2000. 

Domaine Potinet Ampeau

Provar, beber e apreciar um vinho antigo é uma também questão de gosto. Há pessoas que adoram e outras que preferem vinhos mais jovens. Felizmente no mercado há excelentes produtores para todos os paladares. O importante ao provar um vinho de guarda já com alguns bons anos de poeira na garrafa é sempre ter em mente: é uma outra experiência que deve ser apreciada com tempo, sem pressa e de preferência em boa companhia. 

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